Meus destaques [e complementos] em Discurso sobre o Colonialismo - Aime Cesaire

Valeria a pena estudar clinicamente, no pormenor, os itinerários de Hitler e do hitlerismo e revelar ao burguês muito distinto, muito humanista, muito cristão do século XX que traz em si um Hitler que se ignora, que Hitler vive nele, que Hitler é o seu demônio, que se o vitupera é por falta de lógica, que, no fundo, o que não perdoa a Hitler não é o crime em si, o crime contra o homem, não é a humilhação do homem em si, é o crime contra o homem branco e o ter aplicado à Europa processos colonialistas a que até aqui só os árabes da Argélia, os da Índia e os negros da África estavam subordinados.
E esta eh a grande reprovacao que eu faco ao psudo humanismo: haver socavado por muito tempo os direitos do homem; tido deles e ainda ter, uma concepcao estreita e dividida, incompleta e parcial; e no final das contas, sordidamente racista.
(...)Aonde quero chegar? A esta ideia: que ninguem colonializa inocentemente, que tampouco ninguem colonializa impunemente; que uma nacao que colonializa, que uma civilizacao que justifica a colonizacao e, portanto, `a forca, ja 'e uma civilizacao enferma, moralmente ferida, que irresistivelmente, de consequencia em consequencia, de negacao em negacao, e que chama [e ama] seu hittler, quero dizer, seu [proprio] castigo.
(...) a colonizacao (...) desumaniza o homem mesmo o mais civilizado; que a acao colonial, a empreitada colonial, a conquiesta colonial, fundada sobre o desprezo do homem nativo e justificada por esse desprezo, tende inevitavelmente a modificar aquele que a empreende; que o colonizador [e o colono], ao habituar-se a ver no outro a besta, ao exercitar-se em trata-lo como besta, para acalmar sua consciencia, tende objetivamente em transformar-se ele proprio em besta.
(...)Cabe-me agora levantar a equacao: colonizacao = coisificacao
(...)Falo de milhoes de homens aos quais sabiamente se lhes inculcou o medo, o complexo de inferioridade, o temor, o por-se de joelhos, o desespero, o servilismo.
(...)Ao afirmar isso, parece que em alguns meios se finge descobrir em mim um "inimigo da europa" e um profeta do retorno ao passado ante-europeu.
Eu disse - e isso 'e muito diferente - que a Europa colonizadora enxertou o abuso moderno na antiga injustica; o odioso racismo na velha desigualdade (...) que a Europa colonizadora é desleal quando legitima a posteriori a ação colonizadora aduzindo os evidentes progressos materiais realizados em certo domínios sob o regime colonial, porque a mudança brusca é sempre possível, tanto na história quanto em qualquer outro âmbito, que ninguém sabe a que estágio de desenvolvimento material chegariam estes mesmo países sem a intervenção européia; que o equipamento técnico, a reorganização administrativa, em uma palavra, “a europeização” da África ou Ásia não estavam ligadas necessariamente –como prova o exemplo japonês- à ocupação europeia; que a europeização dos continentes não europeus poderia ter sido feita de outro modo sem que fosse sob a bota da Europa; que este movimento de "europeização" estava em marcha; que este foi, inclusive, freado; que, em todo o caso, foi falseado pelo domínio da Europa.
A prova é que hoje os nativos da África ou da Ásia reivindicam escolas, e a Europa as nega; é o homem africano quem solicita portos e estradas; e a Europa colonizadora raciona; é o colonizado quem quer ir adiante, é o colonizador o que o mantém atrasado."

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